Um tempo atrás, a repressão, a falta de liberdade pra falar e fazer era apontada como causa de toda hipocrisia social. A liberdade veio, e por não saber o que fazer com ela, acabamos por criar essa cultura do "tudo é normal e discrição é demodé", onde o respeito a si próprio (nem vou falar do respeito aos outros) tornou-se algo quase tão obscuro quanto antes eram assuntos como sexo, gravidez e drogas.
Não que eu seja contra a discussão aberta de temas polêmicos (quer dizer, não tão polêmicos assim atualmente). O que me preocupa é o fato de estarmos dando pouca ou nenhuma atenção ao ato de "tomar conta da alma", de esvaziar a cabeça pra essas coisas, digamos, práticas demais, isso que não exige nada de abstração, intelecto, sensibilidade.
Nesse panorama, pouco se fala de pureza, de ingenuidade, daquele "sentimento quase infantil", no qual éramos encorajados a acreditar (e que de fato existe, mas quase sempre escondemos por vestir a armadura que nos é necessária). E, quando se fala, é sempre de forma elegante demais, burocrática. Perdeu-se a inocência.
É por essas e outras que acredito: precisamos de mais "Antes das Seis", "Every Little Thing", "In my Life". Essas coisas pequenas, simples, que nos lembram da parte mais tranquila, mais humana, mais infantil que adormece dentro de nós.
E é por isso que a minha trilha sonora é composta por imensa maioria de músicas antigas.
Assim eu me lembro que as pessoas, um dia, acreditaram nessa besteirada toda que eu ainda (talvez fosse mais correto dizer "novamente") acredito.
Espero que você acredite também.
O pior, penso eu, é que quem nao acredita mais nisso já perdeu a inocencia e nao acredita mais nem em si mesmo.
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